sexta-feira, 3 de julho de 2015

Delator apresenta documentos do pagamento de propina a políticos

Documentos são apresentados como provas de acusação pelo empreiteiro Ricardo Pessoa. São tabelas, contratos e controles do dono da UTC


No acordo de delação premiada, o dono da empresa UTC, Ricardo Pessoa, apresentou aos investigadores da Lava Jato documentos do pagamento de propina a políticos.

Ricardo Pessoa é apontado como chefe do suposto "clube das empreiteiras", formado para fraudar licitações da Petrobras. Processado por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, o empresário cumpre prisão domiciliar em São Paulo. 

Esses novos documentos podem orientar novos rumos na investigação. A maioria das informações diz respeito a políticos.

O empresário contou a investigadores que era muito procurado por políticos e que mesmo quando eles não tinham influência direta na Petrobras, a UTC fazias doações ou pagava por serviços: “Tanto dinheiro doado de forma pulverizada a diversos partidos e políticos tinha uma intenção: fazer com que a engrenagem andasse perfeitamente, tirando, portanto, todas as pedras que pudessem aparecer no caminho: abertura de portas no Congresso, na Câmara e em todos os órgãos públicos.”

Uma tabela mostra doações a políticos de vários partidos, de apoio ao governo e de oposição. Traz nomes e valores, mas não separa o que é doação legal e o que seria caixa dois.

Alguns nomes que aparecem nos documentos já tinham sido citados por Ricardo Pessoa, mas agora ele dá mais detalhes.

É o caso do ex-ministro José Dirceu. A consultoria dele recebeu cerca de R$ 3 milhões da UTC, parte do dinheiro enquanto Dirceu estava preso, condenado no mensalão do PT.

Ricardo Pessoa diz: "Apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e da sua grande influência no Partido dos Trabalhadores é que mesmo sabendo da impossibilidade de ele trabalhar no contrato firmado, porque estava preso, o aditamento foi feito e as parcelas continuaram a ser pagas." E que, a pedido do ex-ministro, fez doação de R$ 100 mil, em 2010, à campanha do filho de Dirceu à Câmara dos Deputados.

Para o senador Ciro Nogueira, do PP, diz que tratou da entrega de R$ 2 milhões, e que parte, R$ 1,4 milhão, foi feita pelo doleiro Alberto Youssef.

O novo do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto aparece em outra tabela que o empreiteiro descreve como "controle da conta corrente Vaccari", mostrando saques que Vaccari teria feito em uma conta da UTC

Ele apresentou também o controle sobre os repasses ao PT. A lista é de pagamentos de 2006 a 2014, totalizando R$ 16,6 milhões.

O empreiteiro explica a tabela: conta corrente pagamentos ao PT feitos diretamente na conta do partido, desvinculado da época de campanha e que igualmente tinha relação com os pagamentos da Petrobras.

Ricardo Pessoa também disse que houve pagamentos para o PP, Partido Progressista. Segundo ele, porque era cobrado e não queria ter dificuldades nos contratos com a Petrobras.

Além dos partidos, os documentos mostram doações para campanhas. Uma tabela tem os dados para a doação à campanha de reeleição da presidente Dilma e o contato de Manoel Araújo. Hoje ele é chefe de gabinete do ministro Edinho Silva, que era o tesoureiro da campanha.

Sobre o ex-presidente Lula, Ricardo Pessoa disse que se encontrou com ele sete vezes e que entregou dinheiro vivo para campanha: R$ 2,4 milhões, mas disse que não pode afirmar se Lula soube da origem ilícita do dinheiro.

Pessoa citou ainda nomes de políticos que ainda não estão sendo investigados na Lava Jato. Ele contou que Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão do PT, recebeu R$ 200 mil "por fora" e R$ 300 mil em doações oficiais. Tudo para  manter as portas abertas com o PR, que dominava o Ministério dos Transportes. Segundo ele, nunca houve contraprestação concreta.

Respostas

O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de reeleição da presidente Dilma, disse que todas as doações foram feitas de acordo com a legislação eleitoral. Ele disse ainda que Manoel Araújo, citado por Ricardo Pessoa, era o responsável pela parte burocrática das doações.

A assessoria do ex-presidente Lula declarou que não tem conhecimento dos documentos citados, que considera que houve vazamento seletivo e talvez ilegal, e que por isso não vai se manifestar.

A defesa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari disse que fazia parte das atribuições dele pedir dinheiro para o partido, mas que os pedidos eram sempre para doações legais e informadas às autoridades.

Valdemar Costa Neto não quis se manifestar.

O PT e o PP informaram que só receberam doações legais e que elas foram declaradas à Justiça Eleitoral.

O senador Ciro Nogueira, do PP, disse que não recebeu doações da UTC e que confia na Justiça para que a verdade seja revelada.

A defesa de José Dirceu negou que o ex-ministro tenha recebido pagamentos ilícitos. Disse que ele prestou serviços para a UTC e que a cópia dos contratos e das notas fiscais foram encaminhadas para Justiça do Paraná em janeiro. A defesa do ex-ministro também negou o pedido de doação para a campanha do filho de José Dirceu.

Fonte: G1